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Cavaleiros do Infoapocalipse: como o medo moral molda a internet

Lei Felca e a reprodução do modelo britânico: vigilância, censura e exclusão digital

Julian Assange, profeta sobrevivente do ciberespaço, nos avisou: os cavaleiros do Infoapocalipse não surgiriam montados em tanques, mas através de narrativas morais que justificam vigilância e censura.

Eles se apresentam como quatro espectros: terrorismo, pedofilia, fake news, ódio online. Cada um serve como pretexto para instaurar novos mecanismos de controle. Não há espada física, apenas algoritmos, leis e sistemas de verificação — cada clique, cada post, cada pesquisa monitorada sob o manto da proteção.

No Reino Unido, o primeiro cavaleiro materializou-se em julho de 2025 com o Online Safety Act (OSA). Apresentado como escudo contra o conteúdo prejudicial a menores, ele exigiu verificação etária rigorosa: escaneamento facial, cartões de crédito, open banking, digital IDs, tudo regulado pela Ofcom (Ofcom; Biometric Update).

A Electronic Frontier Foundation (EFF) foi direta em sua crítica: a lei não torna as crianças mais seguras. Pelo contrário, cria um regime de vigilância em massa, censura conteúdo legítimo — debates sobre saúde mental, identidade, sexualidade — e força milhões a sacrificar seu anonimato para permanecer conectados (IFEX).

O efeito não é proteção, mas exclusão digital: quem não possui documentos ou acesso a dispositivos digitais fica trancado fora da praça pública 2.0. Além disso, reforça o poder das big techs, únicas capazes de implementar e gerenciar sistemas complexos de verificação. O resultado prático? Aumento exponencial no uso de VPNs e outras formas de evasão digital (PC Gamer).

O Brasil, seguindo o modelo britânico, apresentou a chamada Lei Felca (PL 2628/22). Nascida de um vídeo viral sobre a “adultização de menores”, a lei propõe verificação etária obrigatória, multas astronômicas, bloqueios via Anatel e vigilância das interações digitais de crianças e adolescentes (Correio Braziliense; CNN Brasil).

O efeito é o mesmo do Reino Unido:
• Privacidade sacrificada em troca de biometria e documentos;
• Exclusão digital de milhões sem acesso a IDs válidos;
• Favorecimento e concentração de poder nas big techs, únicas capazes de custear o compliance e controlar o acesso à informação;
• Censura preventiva, eliminando qualquer conteúdo arriscado para evitar multas (Castro Magalhães Blog).

Em nome da infância, toda a sociedade é infantilizada: incapaz de decidir o que quer ver, obrigada a provar sua maioridade a cada clique. A ironia é que a proteção moral transforma usuários em crianças tuteladas, dependentes de intermediários privados e supervisão estatal.

Assange, profeta sobrevivente, já nos alertou: o futuro não é a anarquia criativa da internet de 1999, mas um espaço de controle distribuído, privatizado, mascarado de benevolência. Reino Unido e Brasil apenas dão nomes diferentes à mesma fera.

Se quisermos enxergar os cavaleiros do Infoapocalipse cavalgando, não precisamos olhar para os desertos de Mad Max: o espetáculo acontece nos parlamentos, nas agências reguladoras e nos termos de uso das plataformas. Eles, sob a bandeira da proteção, pavimentam a estrada para o fim da internet como a conhecemos — uma internet de crianças eternas, supervisionadas, controladas e, acima de tudo, inseguras sob a promessa de segurança, com o poder concentrado nas mãos de poucos intermediários privados.

De boas intenções o inferno está cheio — mas será que o governo realmente quer proteger as crianças, ou apenas enxergou uma oportunidade de ampliar seu poder de controle e censura?

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“Eu não tenho nenhuma vergonha da minha juventude! Eu teria vergonha de ter a sua idade e continuar comunista”